PIB do Brasil supera expectativas e cresce 1,4% no 2º trimestre

O Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil cresceu +1,4% no segundo trimestre do ano e +3,3% em um ano. Os dados foram divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta terça-feira (3/9).
Os resultados superaram as expectativas do mercado financeiro mais uma vez. Afinal, os agentes esperavam um aumento menor em ambos os casos. Aliás, a projeção do mercado no início do ano era de uma alta de +1,5% no PIB ao final de 2024.
Mesmo assim, muitos analistas veem desafios econômicos com o cenário atual, principalmente do ponto de vista fiscal. Além disso, apesar de louvar os dados do IBGE, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, citou o risco de pressão inflacionária.
Essa foi a 14ª alta do PIB, considerando o mesmo período do ano anterior. A última vez em que houve uma queda na base de comparação remonta à pandemia do novo coronavírus. Foi nos quarto trimestre de 2020, quando houve uma queda de -0,3% na economia brasileira.
O PIB totalizou R$2,89 trilhões no segundo trimestre deste ano, em valores correntes.
Indústria e serviços estimularam o PIB
O PIB, que representa a soma dos bens e produtos finais da economia brasileira, cresceu 3,3% em um ano. Essa variação foi observada no segundo trimestre, entre abril e julho. E a comparação leva em conta o mesmo intervalo do ano passado.
Até então, as expectativas do mercado financeiro indicavam um avanço de +2,7% sobre essa mesma base de comparação. Por isso, o resultado foi recebido com surpresa.
A indústria voltou a colaborar para o avanço do PIB, com um crescimento de +1,8% em relação aos três meses anteriores. Além disso, os serviços cresceram +1%, estimulando o resultado positivo. Por outro lado, a agropecuária encolheu 2,3% nesse mesmo período.
Já na comparação anual, a indústria avançou +3,9%, enquanto o setor de serviços cresceu +3,5%. Os números da indústria são expressivos porque têm um efeito importante sobre a cadeia de produção nacional e indicam um aquecimento do consumo. Os serviços, por sua vez, representam 70% da economia brasileira.
Rebeca Palis, coordenadora de Contas Nacionais do IBGE, ressaltou o resultado da indústria.
“Com o fim do protagonismo da agropecuária, a indústria se destacou nesse trimestre, em especial na eletricidade e gás, água, esgoto, atividades de gestão de resíduos e na Construção.”
Felipe Queiroz, economista-chefe da Associação Paulista de Supermercados (Apas), comentou o resultado:
“A economia brasileira teve um crescimento puxado especialmente pela ótica da oferta, pela indústria, que tem apresentado recuperação bastante significativa e robusta, especialmente com o câmbio que gera uma certa proteção à nossa indústria local frente a alguns competidores internacionais e também o setor de serviços.”
Enquanto isso, a agropecuária teve uma queda de -2,9% na comparação anual. Portanto, não se tratou apenas de um movimento sazonal. De acordo com o IBGE, esse recuo se deve a “condições climáticas adversas” e a perdas nas produções de soja e milho.
Mercado financeiro espera alta de +2,46% no PIB em 2024
Um dia antes da divulgação do PIB pelo IBGE, o mercado financeiro apostava em um avanço de +2,46% no PIB ao final do ano.
Os dados constam no último boletim Focus, uma pesquisa semanal do Banco Central (BC) que reúne projeções para os principais indicadores econômicos.
Essa já é uma visão mais otimista que a do Relatório Trimestral de Inflação de junho. Afinal, segundo esse documento do BC, a autoridade monetária esperava um crescimento de +2,3% na economia nacional em 2024.
Por outro lado, a previsão mais recente do Fundo Monetário Internacional (FMI) é de uma alta de +2,4% no PIB brasileiro. Com a divulgação dos números oficiais pelo IBGE, a expectativa é de que o mercado financeiro e as instituições revisem para cima a expectativa para o PIB deste ano.
O país deve terminar o ano com uma das maiores altas do PIB entre as principais economias do mundo. Aliás, segundo o Valor Econômico, o Brasil já está no 5º lugar nesse quesito entre 52 países analisados.
Haddad também espera uma revisão do indicador. Na terça-feira (3/9), ele comentou o resultado do IBGE:
“Nós vamos, provavelmente, reestimar o PIB para o ano que, pela força com que vem se desenvolvendo, pode superar 2,7%, 2,8%. Há instituições que já estão projetando PIB superior a 3%. Isso pode ensejar uma reprojeção de receitas para o ano que vem.”
Também ressaltou a importância dos investimentos para crescer:
“Se não aumentarmos nossa capacidade instalada, vamos ter dificuldade de crescer, mas algumas indústrias estão com margem para crescer. Portanto, os investimentos vão ajudar a não ter gargalos. A demanda puxada pelos investimentos é tudo o que a gente quer: crescimento com investimento é a maior garantia de equilíbrio entre oferta e demanda.”
Inflação preocupa
Apesar dos dados positivos em relação ao PIB, o mercado tende a manter, e até elevar, a sua preocupação em relação à inflação.
Afinal, os números apontaram para um crescimento da demanda no segundo trimestre. Houve tanto um aumento do consumo das famílias quanto das despesas do governo e da formação Bruta de Capital Fixo. Aliás, isso foi observado tanto na comparação com o trimestre anterior quanto na base anual.
Entre os fatores que contribuíram, para um maior consumo, estão os juros mais baixos, a melhora do mercado de trabalho e o volume de crédito disponível. Também houve alta nos investimentos, com o crescimento da importação e da produção de bens de capital. Por fim, destaca-se o desempenho dos setores de construção e desenvolvimento de software.
Quanto ao consumo das famílias, ele acaba refletindo no desempenho do setor de serviços. Afinal, houve variações positivas em setores como comércio (+4%), seguros e serviços relacionados (+4%), informação e comunicação (+6,1%) e atividades imobiliárias (+3,7%).
Com a economia aquecida, o mercado já vê uma inflação maior e espera que os juros não baixem até o final do ano.
Ainda segundo o boletim Focus, os agentes preveem uma inflação oficial de +4,26% no fim de 2024. Essa é a sétima alta consecutiva nas previsões para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA).
Apesar disso, o IPCA permaneceria dentro da meta oficial. Afinal, o Conselho Monetário Nacional (CMN) determinou que a inflação deve terminar o ano em 3%. Mas o valor tem uma margem de tolerância de 1,5 ponto percentual. Portanto, pode ficar entre 1,5% e 4,5%.
Além disso, as projeções para a taxa Selic permanecem estáveis. Ou seja, mesmo com uma previsão de preços maiores ao fim do ano, o mercado não acredita que a taxa básica de juros aumentará em relação ao patamar atual de 10,5% este ano. Por outro lado, é cada vez mais improvável que o BC promova uma queda da Selic.
Preocupação com o lado fiscal
O governo vem acumulando uma série de notícias positivas na economia nas últimas semanas. Afinal, além da alta no PIB, o mercado de trabalho está aquecido, houve um aumento dos salários e a Bolsa de Valores vem batendo recordes.
Além disso, os investimentos vêm dando sinal de vida. Não apenas pelo governo, mas também por empresas de diferentes setores. Por exemplo, montadoras de carros anunciaram uma série de investimentos no país entre março e abril deste ano.
Apesar disso, muitos analistas estão acendendo o sinal de alerta com uma possível deterioração fiscal. Entre os fatores que contribuem para isso, estão:
- Dados do Projeto de Lei do Orçamento (PLOA) 2025, que será entregue ao Congresso, indicam que as contas não deverão fechar no azul;
- Há espaço limitado para mudanças estruturais que levem a um corte de despesas no curto prazo;
- Risco de drible ao arcabouço fiscal, com medidas anunciadas recentemente, como o programa Gás para Todos;
- Possíveis falhas no desenho do projeto do arcabouço fiscal, com os pisos da saúde e da educação crescendo mais do que outras despesas.
Além disso, há sempre o risco político no horizonte. Afinal, em ano de eleições municipais, há receio sobre possíveis medidas para turbinar candidatos aliados do governo federal. E isso pode acabar antecipando preocupações com as eleições de 2026.
No entanto, também há sinais positivos em relação à política fiscal. Em julho, Haddad anunciou o bloqueio de R$ 15 bilhões no orçamento.
Além disso, a transição no Banco Central tem sido tranquila. Recentemente, Gabriel Galípolo foi anunciado como o indicado do governo para suceder Roberto Campos Neto na presidência do BC. Suas falas vêm tranquilizando o mercado, especialmente quando indicam a possibilidade de aumentar juros se isso for necessário.

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