FTX tenta recuperar US$ 1 bilhão com novos processos

Os responsáveis pela gestão da falência da FTX abriram 20 novos processos que visam recuperar US$ 1 bilhão perdido pela exchange de criptomoedas. As ações judiciais têm como alvos diferentes organizações empresariais e políticas. Elas incluem a contestação de possíveis pagamentos indevidos de serviços e contribuições.
Já chegou a 51 o número de ações judiciais contra devedores da FTX desde novembro de 2022, quando a empresa declarou falência. Portanto, essa iniciativa se inscreve nos esforços do conselho de reestruturação para recuperar ativos com o intuito de pagar credores da antiga plataforma de criptos.
Em seguida ao anúncio, foram iniciados processos judiciais contra diversas empresas e indivíduos. Segundo relatos sobre o teor desses processos, um dos focos são organizações de esquerda nos Estados Unidos, por possíveis doações irregulares com fundos de clientes da FTX.
FTX mira dinheiro de doações e filantropia
Usuários vazaram no X (antigo Twitter) possíveis informações sobre os movimentos legais recentes da FTX, em meio ao processo de falência da empresa. A empresa fundada por Sam Bankman-Fried, que agora cumpre pena de 25 anos de prisão nos EUA, teria sido vítima de fraudes e desvios de dinheiro por parte da antiga administração.
Sunil Kavuri, um investidor de criptomoedas que processou a FTX, deu detalhes sobre a reviravolta mais recente no processo. Por exemplo, há o questionamento de doações políticas no valor de US$ 40,2 milhões. Também se destaca a saída de US$ 3 milhões em filantropia e US$ 32,5 milhões para pagamentos de serviços à empresa.
Segundo as leis dos EUA, algumas das contribuições ou doações podem ser reclamadas se houver comprovação de intenções fraudulentas por trás delas. Portanto, se as entregas ocorreram quando a queda da FTX era iminente, os valores estariam suscetíveis à devolução.
Uma fraude gigantesca
Há pelo menos dois ativos preciosos nas ações judiciais movidas pelos herdeiros da inadimplência da FTX. São eles Anthony Scaramucci, ex-diretor de comunicação da Casa Branca, e o investidor em criptomoedas Nawaaz Mohammad Meerun, mais conhecido como “Humpy, a Baleia” (a baleia Humpy).
No caso do ex-funcionário do Executivo dos Estados Unidos, a pedida é de cerca de US$ 100 milhões. Isso inclui sua empresa, a firma de investimentos de capital de risco SkyBridge. Portanto, entre todos os réus cujo nome apareceu nas notícias, esse é um dos mais proeminentes.
Por outro lado, Meerun é acusado de manipular o mercado de compra e venda de criptoativos para causar perdas à exchange no valor de US$ 1,2 bilhão. Segundo os documentos do processo, ele teria sido responsável por “orquestrar” manobras ilegais e massivas para fraudar a FTX.
O futuro da dívida da FTX
A FTX foi uma das principais bolsas de criptomoedas até o seu colapso. Por isso, sua queda representou um sério golpe na confiança dos investidores de capital de risco do setor de criptoativos.
No entanto, o esforço dos responsáveis pela massa falida para liquidar ativos da empresa está bem evidente. Então, há uma boa dose de confiança de que eles desejam ressarcir os afetados pela falência da FTX.
Em maio deste ano, o atual CEO da FTX, John Ray III disse que deseja ressarcir os credores e reembolsar clientes que foram vítimas do colapso da empresa. Aliás, de acordo com ele, a venda do restante dos ativos da FTX poderia render mais de US$ 16 bilhões.
Em outubro de 2024, o Tribunal de Falências do Distrito de Delaware aprovou um plano de reembolso entre US$ 14,7 bilhões e US$ 16,5 bilhões para 98% dos credores.
Além disso, existem diversas outras ações judiciais que também buscam recuperar parte do dinheiro perdido pelos usuários e credores da FTX.
Em agosto, a exchange chegou a um acordo com a Comissão de Negociação de Futuros de Commodities (CFTC). O valor, nesse caso, foi de US$ 12,7 bilhões, com aprovação do Tribunal Distrital dos Estados Unidos para o Distrito Sul de Nova York.
A Alameda Research, que era uma empresa irmã da FTX, também foi alvo desse mesmo processo. A CFTC alegou que a fraude provocada pelos funcionários da empresa teria causado prejuízos de até US$ 8 bilhões.
Relembre o caso
A FTX foi fundada em 2019 por Sam Bankman-Fried, um ex-funcionário da Jane Street Capital que se mudou para Berkeley, na Califórnia, em 2017. Antes da FTX, ele fundou a Alameda Research, uma empresa com foco na negociação de criptomoedas.
Em seguida, Bankman-Fried fundou a FTX com o programador Zixiao “Gary” Wang. Alguns meses depois, Changpeng Zhao (o “CZ”), da Binance, comprou 20% da empresa por cerca de US$100 milhões.
O negócio teve um crescimento rápido e conquistou milhões de usuários. No entanto, em 2022, Bankman-Fried foi acusado de provocar um golpe de mais de US$ 10 bilhões nos investidores da plataforma. Por isso, acabou recebendo uma condenação de 25 anos de prisão.
Segundo cálculos dos investigadores, o golpe pode ter levado os clientes da FTX a uma perda em torno de US$ 8 bilhões. Além disso, investidores de capital teriam sofrido um prejuízo acima de US$ 1,7 bilhão. Por fim, os credores do fundo hedge Alameda Research perderam cerca de US$ 1,3 bilhão.
Bankman-Fried teria sido o único responsável por esse prejuízo. Afinal, segundo a Justiça, o ex-CEO orquestrou todo o esquema para desviar US$ 10 bilhões da FTX.
A promotoria afirmou que esse dinheiro teve como destino diferentes projetos pessoais do empresário. Por exemplo, ele teria colocado uma boa parte do dinheiro em investimentos de capital de risco. Além disso, fez doações políticas e adquiriu imóveis de luxo nas Bahamas, onde estava a sede da exchange.
FTX leiloou reservas de Solana
Ao longo do ano, a FTX leiloou parte de suas reservas restantes de Solana (SOL) para levantar fundos e conseguir pagar parte de suas dívidas em aberto.
A FTX começou a venda de seu estoque de SOL em março. Inicialmente, a empresa contava com US$ 7,5 bilhões nessa moeda. No entanto, a estratégia de venda teve mudanças ao longo do tempo com o objetivo de obter o máximo de retorno.
Inicialmente, a FTX vendeu parte dos tokens com um desconto grande em relação ao seu valor de mercado. Os descontos chegaram a 67%.
Em seguida, a empresa preferiu ir por outro caminho e lançou um leilão de seus ativos em SOL. Os interessados puderam usar BTC, ETH e USDC para pagar pelos fundos em Solana. Mas também tinham a opção de usar dólares americanos.
Quando abriu seu processo de falência, a FTX ainda tinha vastas reservas de BTC, ETH, SOL e diversas outras moedas. No entanto, o acesso a elas nem sempre era simples, devido à relação conturbada da empresa com outras carteiras e aos diversos processos abertos contra ela.

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