BCE: euro digital é essencial para autonomia monetária da Europa

O Banco Central Europeu (BCE) declarou que o euro digital é essencial para proteger a autonomia monetária da Europa. Além disso, alertou que o crescimento dos sistemas de pagamento digital e alternativas estrangeiras poderiam enfraquecer o papel do euro no sistema financeiro.
Philip R. Lane, membro do Conselho Executivo do BCE, compartilhou a posição do banco central durante um discurso na Conferência da Sociedade de Economia do University College Cork, na quinta-feira (20/3).
Euro digital é resposta ao declínio do uso de dinheiro
Lane alertou que a crescente mudança em direção a pagamentos eletrônicos, stablecoins e moedas digitais estrangeiras pode diminuir a influência do dinheiro do banco central na estrutura financeira da Europa.
Ele argumentou que um euro digital garantiria o acesso público contínuo ao dinheiro emitido pelo banco central. Além disso, preservaria o papel do euro na ancoragem da estabilidade monetária e financeira da região.
Segundo Lane, o declínio no uso de dinheiro ameaça o equilíbrio entre o dinheiro do banco central e os depósitos dos bancos comerciais.
Por isso, sem um euro digital, a capacidade do BCE de estabilizar o sistema monetário e manter a estabilidade de preços ficaria reduzida. Afinal, como diz Lane:
“A ausência dessa âncora monetária poderia desacelerar e fragmentar a rede de transações diárias que formam o moderno sistema de pagamentos multitrilionário.”
Ele também destacou a crescente influência das stablecoins e moedas digitais privadas, que operam fora da supervisão do banco central e podem reduzir o papel do euro nas transações domésticas.
Lane observou que as stablecoins baseadas em euro, lastreadas por reservas de bancos comerciais, tirariam o domínio das transações dos bancos. Por outro lado, as stablecoins em moeda estrangeira poderiam aprofundar a exposição da Europa aos sistemas monetários de outras nações.
“Uma prevalência crescente de dolarização digital prejudicaria a soberania monetária ao comprometer a capacidade de controlar a unidade de conta dentro de sua jurisdição.”
Moedas como o euro digital são tendência mundial
O BCE também expressou preocupação com a dependência da Europa em relação a plataformas de pagamento não europeias. Afinal, segundo ele, o domínio de sistemas de cartões internacionais e empresas de tecnologia deixa a infraestrutura financeira crítica vulnerável ao controle externo.
Lane disse que o euro digital iria combater esses riscos ao fornecer uma alternativa pública e segura em pagamentos digitais. A moeda ajudaria na autonomia estratégica da Europa, reduziria a dependência de provedores estrangeiros e fortaleceria o papel do euro globalmente.
“Seguindo uma abordagem prudente de gestão de risco, a introdução de um euro digital minimizaria a probabilidade de resultados econômicos adversos no futuro e garantiria a resiliência do nosso sistema monetário em um mundo cada vez mais digital.”
Globalmente, os bancos centrais vêm acelerando os esforços para explorar moedas digitais. Além disso, avaliam as implicações de longo prazo das finanças digitais na política monetária.
No Brasil, o projeto do Drex, o real digital, segue em frente sob coordenação do Banco Central (BC). No entanto, enfrenta resistências dentro do Congresso. Isso porque legisladores bolsonaristas veem no projeto uma ameaça à liberdade dos cidadãos.
Ao mesmo tempo, reguladores em todo o mundo continuam a debater como gerenciar o uso crescente de moedas digitais privadas e stablecoins. Afinal, como o BCE deixa claro, essas alternativas podem remodelar os sistemas de pagamento ao reduzir o controle dos governos sobre os sistemas monetários nacionais se não forem controlados.

Leia mais:






