Rússia limita mineração de criptomoedas temendo falta de energia

A Rússia anunciou a proibição da mineração de criptomoedas em algumas regiões. A razão para isso seria a escassez de eletricidade nessas áreas do país. Esta notícia veio a público pouco tempo depois da liberação da atividade na Rússia. O presidente Vladimir Putin havia assinado a medida em agosto deste ano.
Segundo uma reportagem da agência estatal russa TASS, o vice-chefe do Ministério da Energia, Yevgeny Grabchak, anunciou que:
“Em um futuro próximo, a mineração será proibida a nível estadual em algumas regiões.”
Aliás, foi Grabchak quem afirmou que a razão da proibição seria a escassez de eletricidade em algumas regiões da Rússia:
“Por exemplo, já temos regiões com escassez — como o Extremo Oriente, o sudoeste da Sibéria, o Sul…”
Segundo Grabchak, haverá uma limitação na capacidade de abastecimento de energia dessas regiões até 2030. Portanto, não seria possível destinar parte relevante desse fornecimento à mineração criptomoedas.
Mineração foi liberada na Rússia este ano
A mineração de criptomoedas foi proibida na Rússia até agosto, quando Putin assinou a lei que liberou a atividade no país. A nova legislação estava prevista para valer a partir de novembro. Portanto, já tem efeito em território russo.
No entanto, a liberação foi limitada a empresas e indivíduos com registro junto ao Ministério do Desenvolvimento Digital. Por outro lado, as entidades que não cumprem esse requisito enfrentam restrições devido aos limites de energia que o país impõe.
A mesma lei liberou a negociação de ativos digitais por pessoas que residem na Rússia. Nesse caso, a medida veio como uma resposta do país às sanções que enfrenta por parte de países ocidentais — principalmente Estados Unidos e União Europeia.
O projeto de lei inicialmente legalizou criptomoedas para negociações internacionais. Ou seja, tratou-se de uma forma de permitir às empresas locais que contornassem a falta de acesso a dólares. Também é uma forma de resguardar a privacidade de empresas estrangeiras que poderiam sofrer sanções ao negociar com a Rússia.
A questão da mineração de criptomoedas, em particular, surgiu como uma forma de os russos elevarem seu controle sobre uma moeda corrente globalmente — o Bitcoin. Em 2022, Putin chegou a exaltar as “vantagens competitivas” da Rússia nessa atividade, principalmente “o excedente de eletricidade e pessoal bem treinado disponível no país”.
Agora, a regulamentação e supervisão da indústria de mineração no país está a cargo de um conjunto de autoridades. Entre elas, estão o Banco da Rússia, o Ministério das Finanças e um grupo de outros ministérios do governo russo.
Rússia quer expandir iniciativa de mineração para BRICS
Apesar da proibição da mineração de criptos em algumas regiões, o panorama é favorável à atividade no país. Aliás, não apenas no território russo.
Afinal, para enfrentar a pressão que sofre por meio de sanções internacionais, a Rússia também deseja estimular a mineração de criptomoedas em outros países dos BRICS.
Recentemente, o Fundo de Investimento Direto da Rússia (RDIF) anunciou uma parceria estratégica com a operadora de data centers BitRiver. O objetivo é estimular a implementação de novas instalações de mineração cripto e computação de inteligência artificial (IA).
No momento, a BitRiver conta com 21 data centers dentro da Rússia. Além disso, está construindo outros 10 servidores. Por isso, destaca-se no mercado doméstico de computação com alto consumo de energia.
Por meio da parceria com o Fundo de Investimento Direto da Rússia (RDIF), a empresa poderá construir data centers em outros países que compõem o BRICS. Originalmente formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, o bloco iniciou um processo de expansão recentemente.
Portanto, a joint venture entre a BitRiver e o RDIF pode ser uma forma de levar tecnologia para o setor de mineração em países emergentes.
Além disso, o CEO do RDIF, Kirill Dmitriev, destacou a importância do desenvolvimento de IA e da infraestrutura de computação para os BRICS.
“O uso conjunto de infraestrutura de uma alta tecnologia permitirá que os membros do bloco reduzam custos, cortem a dependência de tecnologia estrangeira e tenham controle sobre dados críticos.”
Atividade já provocou apagões em outros países
A proibição da mineração de Bitcoin em algumas regiões da Rússia parece uma medida extrema. No entanto, há boas razões para que o governo seguir esse caminho.
Por exemplo, em 2022, diversos países da Ásia Central sofreram apagões devido a desequilíbrios na linha de energia Norte-Sul do Cazaquistão. Além do próprio Cazaquistão, o Uzbequistão e o Quirguistão foram afetados pelo problema.
Na ocasião, foi divulgado que a fonte do problema teria sido um “acidente”, que acabou danificando a transmissão de energia entre os países. No entanto, os boatos na época apontavam para uma possível influência de mineradores de criptos na região que deu origem ao apagão.
Esses mineradores teriam chegado ao Cazaquistão um ano antes, após a proibição da atividade na China. Afinal, eles viram no país da Ásia Central uma boa oferta de energia a um custo baixo. No entanto, no início de 2022, o Cazaquistão também decidiu restringir a mineração devido ao impacto que ela vinha tendo na rede.
Por outro lado, Uzbequistão e Quirguistão tomaram medidas para melhorar suas operações de mineração e atrair os operadores estrangeiros. O próprio Cazaquistão estaria planejando construir uma usina nuclear para abastecer o setor no longo prazo.
Nos últimos anos, a busca por fontes baratas de energia levou empresas de mineração a diversos países que estavam fora do mapa da atividade inicialmente. Aliás, na América do Sul, o melhor exemplo disso é o Paraguai. Afinal, nossos vizinhos também passaram a atrair mineradores.
Apesar disso, o país vem tomando medidas para ajustar os preços da energia e controlar a demanda por parte das mineradoras. Por exemplo, em agosto deste ano, o Paraguai reajustou suas tarifas sobre a atividade de mineração cripto. Elas passaram de 9% para 16% — no entanto, segundo fontes do governo, isso não espantou empresas do país.
Mineração de criptos é permitida no Brasil
A mineração de criptomoedas tem status legal que varia conforme a jurisdição. Afinal, assim como a China, há outros países que proíbem a atividade. Por outro lado, ela é permitida em muitos lugares, inclusive no Brasil.
Não existe uma lei que proíba a mineração cripto no país. Aliás, o governo permite até mesmo a importação sem impostos de equipamentos para o setor.
Apesar disso, a atividade não é tão intensiva no Brasil como em outros países, entre outras razões, pelo alto custo de energia. Afinal, para minerar Bitcoin e outras criptomoedas que permitem essa atividade, é preciso operar plantas com uma alta capacidade de processamento.
Mesmo assim, o Brasil tem diversas empresas que investem na área. Por exemplo, este ano, a Enegix Global anunciou a instalação de uma fazenda de mineração sustentável no nordeste. Além disso, abriu um escritório em São Paulo.
Segundo a empresa, sua fazenda de mineração usará gás natural ilhado como fonte de energia. Portanto, trata-se de uma fonte de energia limpa.

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