Na China, “yuan digital” falhou e enfraqueceu Xi Jinping
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Acreditamos na total transparência com nossos leitores. Parte do nosso conteúdo inclui links de afiliados, e podemos ganhar uma comissão através dessas parcerias.O Epoch Times, um jornal de língua chinesa com sede nos EUA e afiliado ao movimento Falun Gong, publicou uma reportagem afirmando que o projeto do yuan digital “falhou”. Além disso, considerou isso um sinal de “enfraquecimento do poder” do presidente Xi Jinping.
Esse meio de comunicação costuma ser bastante crítico ao Partido Comunista Chinês (PCC). Além disso, publica conteúdo de extrema-direita e de apoio ao presidente eleito Donald Trump. O Epoch Time é proibido na China continental atualmente.
Os planos de Pequim para uma moeda central do Banco Central (CBDC) sofreram um forte baque no início deste mês. Afinal, o mentor original do yuan digital, Yao Qiao, foi expulso do PCC, sob a acusação de receber suborno em criptomoedas. Yao também teria celebrado acordos secretos com empresas de tecnologia.
Yuan digital falhou, diz Epoch Times
Yao é o ex-chefe do Departamento de Supervisão de Ciência e Tecnologia da Comissão Reguladora de Valores Mobiliários da China. Segundo o Epoch Times, Xi Jinping vinha promovendo o projeto do yuan digital “vigorosamente” desde que chegou ao poder.
No entanto, esse projeto agora teria fracassado com a queda de Yao, que seria “a pessoa que mais sabe sobre moeda digital na China”.
Autoridades da Autoridade Monetária de Hong Kong realizam uma coletiva de imprensa com o tema do yuan digital em maio de 2024. (Fonte: @SingTaoHeadline/YouTube)
O veículo especula ainda que pode haver pessoas nos bastidores políticos de Pequim que não querem que o projeto prossiga. Yao também é ex-diretor do Instituto de Pesquisa de Moeda Digital. Por isso, trabalha em projetos de adoção do yuan digital desde 2014.
Pequim nunca definiu uma data exata para o lançamento de sua CBDC. Mas fez questão de promover a moeda em diversos eventos internacionais de alto nível nos últimos anos.
Além disso, a China expandiu a área de seu projeto-piloto para abranger grande parte do continente, bem como Hong Kong.
A CBDC chinesa desacelerou?
No entanto, este ano, houve uma certa desaceleração nas notícias sobre desenvolvimentos do yuan digital.
O Epoch Times afirma que uma pista disso já aparecia em um artigo que o jornal The Paper, da China continental, publicou no ano passado. O título dizia: “O yuan digital está sendo promovido há quatro anos. Então por que tão poucas pessoas estão usando?”
Diferentemente do Epoch Times, o The Paper é administrado pelo Shanghai United Media Group, uma empresa estatal. Portanto, essas não são palavras de um jornal de oposição ao governo chinês.
Além disso, uma celebridade de internet local realizou uma pesquisa no X (antigo Twitter) segundo a qual 90% dos entrevistados nunca tinham visto ou usado o yuan digital.
O Epoch Times afirma que o yuan digital se tornou um dos muitos projetos inacabados de Xi Jinping. Também diz que a linha oficial de Pequim a respeito do token parece ter mudado:
“Anteriormente, (Pequim alegou) que o yuan digital mudaria a vida das pessoas. Mas agora afirma que o yuan digital é um suplemento ao sistema de pagamento já existente. Isso não é um reconhecimento do fracasso?”
Um colaborador regular da publicação também afirmou que a queda de Yao Qian representa o fim da linha do projeto.
Xangai avança com adoção
A demissão de Yao pode mesmo ser um revés, e parece verdade que os desenvolvimentos recentes do yuan digital estão ocorrendo mais lentamente do que antes. No entanto, nem todos parecem prontos para enterrar o projeto dessa CBDC.
Afinal, diferentes regiões da China ainda estão tentando adotar a moeda, embora em um ritmo aparentemente mais lento do que antes.
No dia 25 de novembro, a China Securities informou que o Governo Municipal de Xangai está tratando de novas medidas para a adoção de CBDC. Isso ocorreu após um anúncio semelhante de Fuzhou, que deu sinal verde para novos planos de usar o yuan digital no financiamento de projetos.
Portanto, não há nenhuma informação oficial a respeito de atrasos no projeto, muito menos sobre um possível cancelamento do yuan digital.
BRICS podem ser tábua de salvação
A expansão do BRICS e uma cúpula recente em Kazan, na Rússia, também podem abrir novas portas para o yuan digital.
Os líderes do BRICS tomaram diversas decisões importantes de cooperação financeira em Kazan. Por exemplo, firmaram um acordo para usar um sistema de CBDC compartilhado para dar suporte a pagamentos transfronteiriços.
Em outubro, o jornal de língua inglesa do PCC, China Daily, publicou a coluna de um colaborador que afirmou:
“O BRICS é uma das melhores áreas possíveis para a China começar a internacionalizar seu yuan digital, juntamente com as iniciativas do Cinturão (Econômico da Rota da Seda), Rota (da Seda Marítima do Século 21) e Parceria Econômica Regional Abrangente, sem negligenciar o importante papel que Hong Kong pode desempenhar.”
Moscou, aliada de Pequim, também planeja lançar sua própria moeda digital, o rublo digital, em algum momento de 2025. Os principais legisladores russos alegaram que a CBDC russa poderia ser “compatível” com o yuan digital e outras moedas digitais do BRICS.
Inicialmente, os BRICS reuniam apenas o Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul (que entrou depois no grupo). No entanto, nos últimos anos, a organização iniciou um projeto de expansão dos países associados.
Recentemente, Egito, Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos, Irã e Etiópia passaram a fazer parte do grupo. Além disso, há diversas outras candidaturas sendo avaliadas no momento. Portanto, os BRICS podem se tornar uma boa forma de expandir novos projetos em países em desenvolvimento.
Esse movimento ocorre em um momento no qual a Rússia e a China, principalmente, buscam se fortalecer internacionalmente em oposição aos EUA e à Europa.
Projetos de CBDCs ganham força no mundo
Atualmente, dezenas de países levam adiante projetos de moedas digitais vinculadas a seus bancos centrais. O objetivo é tentar usar a tecnologia blockchain para gerar benefícios de governança e segurança das finanças na era digital.
No entanto, o estágio de desenvolvimento pode variar bastante conforme o caso. Por exemplo, o Brasil está em fase de testes do Drex, o “real digital”, mas ainda não levou o piloto para usuários finais. Por enquanto, diversos consórcios vêm experimentando produtos novos na rede que o Banco Central (BC) está desenvolvendo.
A previsão atual é de que o Drex seja implementado apenas em 2025, ou mesmo em 2026. No entanto, o cronograma do projeto já sofreu alguns atrasos, principalmente devido a impasses relacionados à privacidade. Portanto, não se descarta que ocorram novos contratempos.
Além disso, há países adotando uma posição mais cautelosa em relação a projetos de CBDCs. Esse é o caso da Noruega, que adiou os esforços para desenvolvimento de uma solução desse tipo.