Drex entra em segunda fase de testes

O Banco Central (BC) anunciou o começo da segunda fase de testes do piloto do Drex, o “real digital”. Nessa etapa, serão desenvolvidas novas funções na rede, com a participação de diversas empresas. A nova moeda digital brasileira tem lançamento previsto para 2025, apesar de haver desconfiança do mercado em relação ao cumprimento dessa meta.
Empresas testarão projetos próprios com Drex
Após a primeira fase, em que os participantes testaram uma solução específica do BC, o foco agora são projetos de serviços financeiros das próprias empresas. Afinal, elas venceram um processo de seleção para testar suas soluções de contratos inteligentes.
Portanto, a novidade agora é o fato de os serviços em análise serem ideias dos próprios participantes, já como embriões de soluções reais. Além disso, o controle será das próprias empresas ao longo do processo, com supervisão da equipe do BC.
Segundo Fabio Araújo, consultor do Departamento de Operações Bancárias e de Sistema de Pagamento (Deban) do BC, cada serviço prevê um “caso de uso” diferente. Eles devem estar de acordo com as exigências de privacidade previstas na lei.
Além disso, segundo Araújo, a nova fase de testes incluirá ativos sem regulação, atualmente, pelo Banco Central:
“Também iremos testar o uso de ativos não regulados pelo BC. Para isso, estamos trabalhando em conjunto com a Comissão de Valores Mobiliários (CVM). Outros reguladores também demonstraram interesse em testes de operações com ativos de sua competência, de modo a ampliar a usabilidade da plataforma.”
Segundo o coordenador do Drex, o desenvolvimento dos projetos deve iniciar nas próximas semanas. Ao longo dessa fase, os reguladores e as instituições participantes discutirão estratégias de implementação e governança dos serviços. Também terão a oportunidade de testar o controle de privacidade em diferentes situações.
Segundo informações do BC, a implementação de contratos inteligentes será testada pelos participantes até o fim do primeiro semestre do ano que vem.
13 temas e 16 empresas e consórcios participantes
O Banco Central havia anunciado os projetos selecionados no início do mês.
Em princípio, a segunda fase de testes do Drex incluirá o desenvolvimento de 13 temas diferentes. Ao todo, 16 empresas e consórcios participarão do projeto nessa etapa.
Veja a lista de serviços financeiros que serão testados:
Tema | Consórcio |
Cessão de recebível | ABC e Inter |
Crédito colateralizado em CDB | BB, Bradesco e Itaú |
Crédito colateralizado em títulos públicos | ABBC, ABC e MB |
Financiamento de operações de comércio internacional (Trade Finance) | Inter |
Otimização do mercado de câmbio | XP-Visa e NuBank |
Piscina de liquidez para negociação de títulos públicos | ABC, Inter e MB |
Transações com Cédulas de Crédito Bancário | ABBC |
Transações com ativos do agronegócio (CVM) | TecBan, MB e XP-Visa |
Transações com ativos em redes públicas | MB |
Transações com automóveis | B3, BV e Santander |
Transações com créditos e descarbonização – CBIO | Santander |
Transações com debêntures (CVM) | B3, BTG e Santander |
Transações com imóveis | BB, Cai |
Quanto aos consórcios participantes, eles reúnem as seguintes empresas em cada caso:
- ABBC: ABBC, Banco ABC Brasil, Banco Brasileiro de Crédito, Banco BS2, Banco Original, Banco Ribeirão Preto, Banco Seguro, BBChain, BIP e Microsoft;
- ABC: Banco ABC, Hamsa, LoopiPay e Microsoft;
- B3: Banco B3, B3 e B3 Digitas;
- BB: Banco do Brasil;
- Bradesco: Bradesco, Nuclea e Setl;
- BTG: Banco BTG;
- BV: Banco BV;
- Caixa: Caixa, Elo e Microsoft;
- Inter: Banco Inter, Microsoft e 7Comm;
- Itaú: Itaú Unibanco;
- MB: MBPay, Cerc, Mastercard, Sinqia e Banco Genial;
- Nubank: Nubank;
- Santander: Santander, Santander Asset Management, F1RST e Toro CTVM;
- SFCoop: Ailos, Cresol, Sicoob, Sicredi e Unicred;
- TecBan: TecBan, AWS, Banco Arbi, Basa, Clear Sale, CPqD, Cresol, Dinamo, Foxbit, Ntokens, Parfin e Pinbank;
- XP-Visa: XP e Visa.
Até o fim do ano, o BC continuará recebendo propostas de empresas e consórcios interessados em participar do piloto do Drex.
Projetos vão do mercado imobiliário ao agronegócio
Ao anunciar o início da segunda fase de testes, o Banco Central também deu mais detalhes sobre alguns dos projetos que serão testados. Os 13 temas foram selecionados entre 42 propostas recebidas pelo Comitê Executivo de Gestão (CEG) da iniciativa.
Muitos dos projetos visam aperfeiçoar o mercado de empréstimos. Por exemplo, há serviços de crédito colateralizado tanto para Certificados de Depósito Bancário (CDB) quanto para títulos públicos. Nesses casos, os consumidores poderiam usar aplicações financeiras como garantias para obter empréstimos com custos reduzidos de operação.
Outra proposta que pode ter um impacto grande sobre a vida do consumidor final envolve um consórcio com Banco do Brasil, Caixa e SFCoop. O objetivo é testar transações com imóveis na blockchain. Portanto, seguindo a lógica de smart contracts, seria possível condicionar um pagamento automático à assinatura da transferência de propriedade.
Esse tipo de aplicação ajuda a criar um ambiente mais seguro para quem compra e para quem vende. Por isso, não se restringe ao mercado imobiliário, apesar de ter um forte apelo justamente nas transações que envolvem grandes valores. Outro consórcio, formado por B3, BV e Santander, testará um serviço parecido, aplicado a transações com automóveis.
Outro tema interessante envolve transações com ativos do agronegócio, pelo consórcio formado por TecBan, MB e XP-Visa, que tornaria a compra e venda de produtos agrícolas mais segura e eficiente.
Já o Santander decidiu enveredar pela economia verde e testar uma solução para transações com créditos de descarbonização (CBIO). Segundo o BC:
“Consideradas as características do Brasil, o financiamento sustentável do agronegócio e as finanças verdes são temas da maior importância. Os casos de uso propostos visam melhorar os mecanismos de negociação e formação de preço desses ativos, dando as garantias necessárias para que se possa investir em projetos sustentáveis e de elevada produtividade.”
Projeto foi adiado após preocupações com privacidade
Inicialmente previsto para 2024, o lançamento do “real digital” acabou atrasando após um tempo maior que o esperado para finalizar a primeira fase de testes.
Apesar de ainda se falar sobre um possível lançamento em 2025, há a expectativa, por parte do mercado, de que o Drex fique para 2026. Aliás, foi isso que o head de produtos e TI da Unicred, Mateus Casanova, afirmou em abril deste ano.
“Não tem como prever quando estará disponível para a população. Não dá para dizer que em 2025 estaremos com o Drex, pode ser que fique para 2026.”
A Unicred participa do piloto com o grupo SFCoop, que reúne cooperativas de crédito como a Ailos, Cresol, Sicoob, Sicredi e Unicred.
O principal entrave a um lançamento antes disso seria a questão da privacidade das transações na blockchain. Afinal, os primeiros testes junto aos consórcios não foram suficientes para garantir uma solução segura nesse sentido.
Aliás, essa é uma questão difícil de equalizar. Isso porque a blockchain pressupõe registros públicos e rastreáveis. Por outro lado, a legislação brasileira assegura um nível considerável de sigilo sobre as transações. Portanto, o principal trunfo da tecnologia em que o Drex busca se basear entraria em conflito com a previsão legal de privacidade nas transações.
Em nota divulgada em abril, o BC admitiu a dificuldade com a questão da privacidade:
“As soluções tecnológicas de privacidade testadas até o presente estágio do Piloto não apresentaram a maturidade necessária para que se possa garantir o atendimento de todos os requisitos jurídicos relacionados à preservação da privacidade dos cidadãos, apesar de terem evoluído ao longo do tempo.”
Apesar disso, a expectativa é de que sejam criadas soluções para conciliar o uso da tecnologia com a legislação atual.

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