Como a blockchain pode transformar (para melhor) a indústria da música

A indústria da música, que representa um mercado de bilhões de dólares, vem experimentando uma renovação a partir da tecnologia blockchain. E, dessa vez, os artistas é que estão à frente.
Nos últimos tempos, essa indústria tem acompanhando o rápido crescimento do digital streaming, por meio de plataformas como Spotify e Apple Music.
O porém é que esse tipo de plataforma não costuma dar a devida importância aos interesses dos músicos. Como resultado, muitas vezes os artistas recebem compensações mínimas por suas músicas. Estatísticas recentes mostram que os músicos ganham apenas centavos por stream.

Desafios enfrentados na indústria tradicional
A compositora e cantora italiana Violetta Zironi foi uma das artistas que se viu diante dessas dificuldades de remuneração. Segundo ela, essas plataformas “comoditizaram” e desvalorizaram a música, criando monopólios que controlam os artistas.
Como resultado, os desafios enfrentados junto às plataformas de streaming fizeram Zironi reconsiderar sua própria carreira. “Eu estava em uma encruzilhada em minha carreira, depois de oito anos na indústria tradicional, e pensei em desistir da música”, contou Zironi.
Foi aí que, encorajada pela mãe, ela começou a explorar tokens não-fungíveis (NFTS) como uma alternativa ao streaming tradicional.
“Me deu um clique quando minha mãe mencionou NFTs e coleções de arte P2P [ou seja, em que os usuários interagem diretamente entre si]. Deixei os canais tradicionais para explorar exclusivamente esse universo, e não olhei para trás”, afirmou.
Os NFTs se tornaram populares entre os músicos por permitir que recebam mais em royalties, ao mesmo tempo em que ganham mais controle sobre seus dados e direitos autorais.
Novas oportunidades para músicos
Faz cerca de três anos que Zironi tem lançado sua música em blockchain, utilizando o protocolo Ordinals (que permite criar ativos digitais exclusivos na blockchain do Bitcoin).
De acordo com ela, essa tecnologia não apenas preserva sua música, mas abre novas fontes de receita. Recentemente, Zironi leiloou sua música mais recente, “n0 0rdinary kind,” for 1 Bitcoin (BTC) – a 34ª maior inscrição no Bitcoin.
Com a evolução e amadurecimento do protocolo Ordinals, mais músicos estão “inscrevendo” suas músicas na blockchain do Bitcoin.
Ex-produtor musical, Jim Crane destacou que a tecnologia blockchain está se tornando cada vez mais popular no sentido de permitir que os artistas reconquistem o controle sobre sua produção criativa e fluxos de receita.
Segundo ele, a blockchain oferece uma forma transparente de monitorar como a música está sendo usada e monetizada, o que ajuda a construir confiança entre artistas e consumidores.
Música on-chain
Crane afirmou que, entre os benefícios de inscrever músicas no Bitcoin estão atribuição e propriedade imutáveis.
“A blockchain proporciona um registro permanente, e à prova de violação, de quem criou, colaborou ou contribuiu, de qualquer forma, para uma música. Dessa forma, assegura que os artistas recebam o crédito devido e possam comprovar a propriedade sem sombras de dúvida”, explicou.
Em 2023, Crane desenvolveu um protocolo chamado “Audionals”, para agilizar a inscrição de músicas no Bitcoin e minimizar a participação de intermediários nessa indústria. Com isso, promove a descentralização.
Limitação de espaço
Alguns desafios, no entanto, ainda precisam ser enfrentados pelos músicos. É o caso, por exemplo, da limitação de espaço nos blocos. Ou seja, o tamanho limite de cada bloco na blockchain do Bitcoin.
Zironi encontrou esse problema ao tentar inscrever uma música completa, com arte visual. “O bloco do Bitcoin é limitado a 4MB, e inscrições de alta qualidade são caras. Então, trabalhei com 600KB, para tornar o projeto viável”, explicou.
“Essa limitação, no entanto, acabou se revelando uma bênção: pela primeira vez pude apresentar uma performance vocal e de guitarra autêntica, sem polimento, sem a pressão da indústria para produzir demais”, acrescentou Zironi.
Segundo Shailee Adinolfi, líder de desenvolvimento de negócios na Leather, a solução para os músicos deve vir da transição do Bitcoin para soluções de camada 2, permitindo que os artistas criem on-chain e paguem taxas mais baixas.
Ela explicou que as inscrições recursivas, introduzidas depois do Ordinals, permite que os desenvolvedores extraiam dados de arquivos existentes, mantendo o espaço do bloco, em vez de fazer novos uploads a cada inscrição.
O papel do Bitcoin no futuro da música digital
Apesar de as inscrições musicais no Bitcoin ainda serem um conceito novo, Zironi acredita que o modelo vai ganhar força. “A demanda por um sistema descentralizado que atenda músicos e entusiastas da música é imensa”, afirmou.
Na mesma linha de pensamento, Crane acredita que Audionals vai contribuir para um ecossistema de música descentralizado, tornando a criação de música na blockchain mais acessível para artistas com as mais diversas formações e competências.
Ele ponderou, entretanto, que ainda precisamos de protocolos padronizados. “Isso significa estabelecer padrões comuns para a música na blockchain, assegurando a interoperabilidade e a adoção em massa”, argumentou.

Leia mais:






