IPCA registra leve deflação pela primeira vez desde 2023, mas juros devem subir mesmo assim

O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de agosto apresentou um resultado animador, registrando uma leve deflação de 0,02%, a primeira desde junho de 2023.
Este indicativo de desaceleração da inflação, especialmente no setor de serviços, traz uma dose de otimismo, apesar de ainda gerar preocupações para o Banco Central. Contudo, esse cenário não parece ser suficiente para influenciar o Comitê de Política Monetária (Copom) a manter a taxa Selic inalterada na próxima reunião.
Analistas interpretam o resultado atual como um sinal para um possível aumento moderado na taxa de juros. Estima-se um ajuste de 0,25 ponto percentual, elevando a Selic para 10,75% ao ano.
Anna Reis, economista-chefe da GAP Asset, reforça essa perspectiva. Segundo ela, a decisão já alinhada ao aumento de juros indicado no boletim Focus e outros fatores, como o nível do câmbio e o recente crescimento do PIB de 1,4% no segundo trimestre, corroboram a expectativa de uma elevação da Selic no curto prazo.
Por fim, Reis enfatiza que seria desafiador para o Copom contrariar essas previsões sem motivos fortes que justifiquem a manutenção da taxa.

A inflação controlada pode ao menos diminuir o ritmo de alta dos juros
Segundo análises da economista, um dos aspectos favoráveis recentes está nos serviços intensivos em mão de obra, cujo crescimento, anteriormente em 6%, desacelerou para cerca de 4%, conforme a média móvel trimestral anualizada e dessazonalizada. Anna Reis ressalta que esse dado é um tanto curioso, especialmente considerando que o país se encontra com as menores taxas de desemprego já registradas.
André Valério, economista-sênior do Banco Inter, também interpreta os resultados recentes como positivos. No entanto, ele também acredita que eles não serão suficientes para evitar uma elevação da taxa Selic em 0,25 ponto percentual na próxima reunião do Banco Central.
Ele destaca a redução da inflação acumulada nos últimos 12 meses, que passou de 4,50% em julho para 4,24% em agosto, muito próximo do limite superior da meta de inflação. Além disso, Valério comenta a melhora nos indicadores de núcleos da inflação e da inflação de serviços, que retornaram aos níveis observados em junho, após resultados desfavoráveis em julho.

No entanto, Valério alerta que as expectativas de inflação elevada para o médio e longo prazo podem prevalecer. Como resultado, isto levaria o Banco Central a iniciar um aumento nas taxas de juros já na semana seguinte.
Apesar de não evitar o começo de um novo ciclo de aperto monetário, a contenção recente da inflação poderia influenciar o Banco Central a adotar um ritmo mais moderado de aumento da Selic. Atualmente, o Banco Inter projeta que a Selic deve subir entre 0,75 e 1,0 ponto percentual nos próximos meses.

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