Argentina ultrapassa o Brasil em entrada de criptomoedas

O mercado da Argentina teve um crescimento bastante notável, especialmente com relação às transações com stablecoins. Por conta disso, o país está cerca de 17% acima da média global.
A América Latina se destaca por mostrar que tem um grande potencial para investimentos no setor de criptomoedas e de tecnologias em geral. Alguns países, inclusive, estão superando as médias mundiais. Dentre esses estados está a Argentina, cuja quantidade de criptomoedas movimentadas por usuário superou os números do Brasil.
Os investidores argentinos depositaram uma quantia maior de criptomoedas entre meados de 2023 e de 2024, de acordo com informações da empresa Chainalysis. Os valores movimentados no país somaram mais de US$ 91 bilhões. Com esses números, a Argentina ultrapassou o Brasil em potencial de entradas líquidas. Isso porque os brasileiros movimentaram cerca de US$ 90 bilhões no mesmo período.

Existe uma tendência de que esse número aumente à medida que o mercado retoma o sentimento de alta. No entanto, alguns fatores podem seguir impulsionando negativamente a movimentação. O atual cenário de incerteza com a regulamentação do mercado no Brasil é um deles.
Adoção de stablecoin na Argentina é maior que a média global
Já era esperado que houvesse um aumento da procura por criptomoedas na Argentina após a troca de governo. Isso porque o atual presidente, Javier Milei, é abertamente entusiasta do mercado digital. Durante sua campanha, o chefe do executivo deixou claro que fomentaria o setor e tornaria o país uma referência em tokenização.
Em meio a isso, a Argentina passa por um período de intensa desvalorização da moeda oficial e também inflação descontrolada. Com isso, os argentinos passaram a buscar formas de economizar e até mesmo manter suas economias. Isso explica a procura massiva por stablecoins e outros investimentos alternativos.

Esse tipo de ativo está atrelado ao dólar norte-americano. Isso faz com que, ao investir nesses ativos, os argentinos mantenham o poder aquisitivo de seu dinheiro. Mesmo levando em consideração eventual perda econômica ocasionada pela piora da crise no país.
Portanto, os números trazidos pela Chainalysis não são uma surpresa. A empresa afirma que a Argentina tem uma das maiores participações em movimentações de stablecoins do mercado. Agora também é líder no setor na América Latina.
O relatório indica que entre 2023 e 2024, os argentinos movimentaram cerca de 61,8% das transações envolvendo esse tipo de ativo. O Brasil ocupa a segunda posição dentre os países latinos, com uma média de 59,8%. A Colômbia também teve um bom desempenho, chamando a atenção para os países que ainda não tinham se destacado tanto.
Segundo os especialistas da Chainalysis, esse movimento é comum em mercados instáveis. Especialmente pela possibilidade de ter controle sobre o futuro dos seus investimentos oferecidos aos cidadãos. Isso independe de política monetária oficial.
Ativos como o Tether devem focar no mercado da Argentina ao invés de apostar em economias mais desenvolvidas
Hoje, o Tether é uma das stablecoins mais procuradas do mercado. Por essa razão, a empresa emissora do ativo tem se concentrado em explorar mercados com maior aceitação de ativos digitais. No entanto, essa realidade deve mudar em breve. Diante da ampla procura por investidores latinos, o foco deve ser a Argentina e os países vizinhos. Isso faz com que os Estados Unidos sejam deixados de lado temporariamente.
Segundo o CEO da Tether, Paolo Ardoino, há uma necessidade de oferecer dólar digital na Argentina. Para ele, por mais que as pessoas tenham acesso à moeda convencional, é preciso possibilitar o uso também na versão digital, pois é mais conveniente.
Além disso, o país tem se mostrado cada vez mais receptivo aos ativos digitais. Em 2023, por exemplo, o país permitiu oficialmente o uso do Bitcoin em contratos jurídicos. O uso de criptomoedas no comércio local também aumentou com a desvalorização da moeda, já que isso beneficia os comerciantes.
Um ponto negativo para o país é a falta de regulamentação do setor. Apesar do apoio do atual presidente, a legislação não avançou ainda. Isso tem feito com que a Argentina venha a sofrer com a pressão das empresas interessadas em explorar esse mercado e até mesmo de organismos internacionais.
A falta de estrutura para os ativos e até mesmo para as stablecoins pode fazer com que o Brasil volte a crescer mais do que o vizinho em adoção de criptomoedas. Afinal, existe um esforço para impulsionar o setor de ativos digitais.
Regulamentação e testes com CBDC brasileira devem impulsionar o setor
O Brasil é um dos poucos países da América Latina que já tem uma lei versando sobre as criptomoedas. Considerada um marco na regulamentação do mercado, a legislação está em fase de mudanças. Depois que o atual presidente Luiz Inácio Lula da Silva assumiu, foram criados vários grupos de trabalho para analisar e modificar as regras. Isso porque, atualmente, a legislação não enfrenta alguns assuntos de interesse dos investidores, como a segregação patrimonial, por exemplo.
Agora, no último trimestre do ano, a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e o Banco Central, devem fazer consultas públicas para dar andamento aos trabalhos. Além disso, o projeto de alteração legislativa será encaminhado ao Congresso Nacional para discussão. Espera-se que a atualização do marco legal do setor seja concluída até meados de 2025.
Os esforços do governo podem ser vistos também nos andamentos do Drex. Esse é um CBDC baseado no Real brasileiro, o qual está em fase de testes. Depois de estudar uma forma de oferecer o ativo, o governo decidiu passar a emissão para bancos privados. Assim, as instituições autorizadas poderão emitir Drex e oferecer o token aos seus clientes. Depois disso, a circulação será semelhante a do Pix.
Os testes finais devem incluir as capacidades de descentralização dos ativos e também de privacidade. As primeiras fases de testes estiveram mais focadas no funcionamento das redes e operações de emissão por parte dos bancos credenciados. Além disso, o governo também buscou potencializar os casos de uso do CBDC.
O Drex também deve chegar oficialmente ao mercado em 2025, reforçando o compromisso do Brasil com a expansão do mercado de criptomoedas e com a tokenização em geral.

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