Meme coins em declínio? Especialistas dizem que o hype está em queda
Destaques deste artigo:
- As meme coins dominaram a narrativa das criptomoedas no segundo trimestre, elevando o volume nas DEX para US$ 371 bilhões.
- As meme coins Solana e Base, juntamente com o apoio de celebridades, impulsionaram essa tendência.
- No entanto, o rápido crescimento levanta preocupações sobre se isso pode durar e se o mercado está ficando muito lotado. Também é incerto se esses tokens podem manter o hype no terceiro trimestre.
- As exchanges descentralizadas continuam ganhando força enquanto as exchanges centralizadas enfrentam obstáculos regulatórios.
As meme coins trouxeram mais atenção para as criptomoedas desde que os NFTs popularizaram a descentralização durante a pandemia. De acordo com um relatório recente da CoinGecko, as meme coins, juntamente com ativos do mundo real (RWA) — ativos tangíveis que podem ser tokenizados no blockchain — e IA foram responsáveis por 36% da participação no mercado cripto durante o segundo trimestre (Q2).
Meme entre as 15 narrativas de criptomoeda mais populares
O relatório mostra que as meme coins sozinhas compunham quatro das 15 narrativas de criptomoeda mais populares. E aumentou assim o volume de negociação à vista em corretoras descentralizadas (DEXs) em 16% em relação ao trimestre anterior.
Entre abril e junho, as 10 principais DEXs negociaram o equivalente a US$ 371 bilhões em criptomoeda. Inclusive, com Solana DEXs — o eixo central da subcultura das meme coins — subindo mais.
Enquanto isso, o volume de negociação à vista nas principais corretoras centralizadas (CEXs) caiu 12% em relação ao trimestre anterior, para US$ 3,4 trilhões. Isso foi arrastado pelo aumento do escrutínio regulatório e pelo fraco desempenho dos tokens apoiados por capital de risco, entre outros problemas.
Binance cai em volume
O volume caiu na Binance, a maior corretora do mundo, mas a Bybit se tornou a segunda maior CEX à vista, respondendo por quase 13% do volume total de negociação no segundo trimestre.
No entanto, a rápida ascensão das memecoins vista no segundo trimestre pode não continuar, sugerem analistas. Eles apontam para várias razões, incluindo uma mudança no sentimento do investidor, mudanças nas condições de mercado e declínio do hype. De fato, o CoinMarketCap relata que o tráfego de memecoins caiu de 23% do tráfego total da web no segundo trimestre para 15% nas duas primeiras semanas de julho.
“Os investidores podem mudar para projetos com fundamentos mais fortes, especialmente em um ambiente de mercado economicamente incerto”, disse Ryan Lee, analista chefe da Bitget Research, a Cryptonews. “À medida que o mercado de criptomoedas amadurece, as pessoas preferem cada vez mais projetos com casos de uso claros, utilidade e equipes de desenvolvimento fortes”, acrescentou.
As meme coins geralmente atraem investidores por meio de marketing viral e hype nas mídias sociais. Mas isso também pode levar à saturação do mercado, diz Lee, dificultando que novas memecoins se destaquem. No segundo trimestre, as meme coins mais populares foram aquelas lançadas no blockchain Solana e no Base da Coinbase. Por exemplo, mais de 1,2 milhão de tokens foram lançados no launchpad Pump.fun baseado em Solana, gerando US$ 48 milhões em receita.
Em 30 de julho, a Pump.fun gerou mais de 506.000 SOL em receita, valendo cerca de US$ 93 milhões, de acordo com a Dune Analytics. No trimestre em análise, meme coins com tema de gato como Shark Cat tiveram bom desempenho, assim como memecoins apoiadas por celebridades. Como exemplo temos o token JENNER de Caitlyn Jenner, MOTHER da rapper Iggy Azalea e DADDY, que é apoiada pelo polêmico influenciador social Andrew Tate.
O hype das meme coins pode morrer no terceiro trimestre
Como as memecoins dependem de tendências de mídia social em vez de valor fundamental, não é surpreendente que muitas possam rapidamente se tornar inúteis quando a excitação inicial passa. Em 2023, o BALD, uma memecoin na Base que zombava do CEO da Coinbase, Brian Armstrong, caiu para zero um dia após seu lançamento. O token inicialmente disparou 3.000% antes que os desenvolvedores retirassem mais de US $ 26 milhões em liquidez e desaparecessem.
Esse é apenas um dos muitos riscos associados à negociação de memecoins. Outro risco é que os tokens sejam puramente especulativos. Além de alguns dominantes como DOGE, Pepe, Floki e Shiba Inu, que atingiram mais de US$ 1 bilhão em capitalização de mercado, a maioria das memecoins simplesmente não tem poder de permanência.
Como o Cryptonews relatou recentemente, o domínio narrativo das meme coins durante o segundo trimestre está começando a cais, assim sendo, os tokens de celebridades na Solana estão desaparecendo.
Natureza especulativa das meme coins
Isso terá grandes implicações para as meme coins durante o trimestre atual. Lee, um analista da Bitget, atribuiu a tendência à natureza especulativa dos tokens – algo que poderia levar a uma reavaliação do risco e a uma redução em investimentos semelhantes.
“A tendência de declínio da popularidade das memecoins pode continuar, particularmente se as condições mais amplas do mercado permanecerem incertas ou pessimistas”, ele observou, acrescentando:
“Isso pode resultar em volumes de negociação reduzidos e preços estagnados para muitas memecoins. Podemos [também] ver consolidação no mercado de memecoins, com apenas projetos tendo forte suporte da comunidade e características únicas sobrevivendo, enquanto outros gradualmente desaparecem.”
Water é caso curioso
No lado positivo, tendências emergentes como endossos de celebridades ou integração com a cultura popular podem levar a um ressurgimento de meme coins, acrescenta Lee.
Por exemplo, em 8 de julho, a meme coin Water, baseada na rede solana, subiu até 350% depois que a conta do Instagram do astro do futebol Lionel Messi postou uma foto promovendo o token para seus 504 milhões de seguidores.
The first time ever Messi is promoting a Memecoin via Instagram $WATER , IS THAT MESSIS MEMECOIN?! pic.twitter.com/h0SxKTCrqq
— WALL STREET BINANCE (@Wallstreet_bnb) July 8, 2024
A pré-venda de Water se mostrou um sucesso, e o token atingiu US$ 500 milhões em capitalização de mercado. No entanto, ele tem lutado para manter a tendência desde então. O preço do token Water caiu mais de 95% desde uma alta de cerca de US$ 0,00264 em 26 de junho, de acordo com dados da CoinGecko. A queda sugere que, sem utilidade real, mesmo o apoio de celebridades pode não ser suficiente para salvar algumas memecoins.
Os tokens meme também podem se beneficiar do recente halving do Bitcoin. Trata-se de um evento que ocorre a cada quatro anos e reduz a quantidade de Bitcoin (BTC) que entra em circulação. Em resumo, o halving tende a impulsionar o preço do BTC. E já levou a um interesse mais forte em outros criptoativos que não são Bitcoin, incluindo meme coins.
Traders buscam oportunidades fora do Bitcoin
O preço do Bitcoin subiu mais de 85% para uma alta histórica de US$ 73.000 no período que antecedeu o evento de halving em abril de 2024, elevando o resto do mercado com ele. De acordo com analistas, à medida que os traders buscam oportunidades fora do Bitcoin, as meme coins podem ver um crescimento ainda maior. Isso porque capturam o interesse especulativo de investidores que buscam a próxima grande tendência.
A descentralização é a base das criptomoedas
O contraste entre exchanges descentralizadas e centralizadas representa um debate central na indústria cripto. As exchanges descentralizadas (DEXs) permitem que os usuários negociem diretamente entre si sem uma autoridade central, uma função que sem dúvida conta como a mais disruptiva da cripto.
À medida que os desafios legais e as regulamentações se tornam mais rigorosos em torno de plataformas financeiras centralizadas, a negociação descentralizada está recuperando popularidade. Algumas questões legais de alto perfil, como as enfrentadas pela Binance na Nigéria e nos EUA, empurraram alguns na comunidade cripto para a clandestinidade.
Como um advogado focado em cripto observa em um artigo de opinião, a ascensão da negociação P2P e DEX pode muito bem cumprir a visão original de Satoshi Nakamoto para as criptomoedas.
Felix Sim, cofundador e CEO da plataforma web3 Salad Ventures, sediada em Cingapura, disse a Cryptonews que a queda nos volumes de negociação de CEX e o aumento na atividade DEX indicam uma mudança profunda nas preferências dos investidores.
Alternativas descentralizadas com maior privacidade
“Essa mudança é motivada pelo aumento do escrutínio regulatório em plataformas centralizadas. Isso leva os investidores a buscar alternativas descentralizadas que ofereçam maior privacidade e controle”, disse Sim. “Avanços em protocolos DeFi e soluções de escalonamento de camada 2, que aumentam as velocidades de transação e reduzem custos, estão tornando as DEXs mais atraentes e acessíveis”, acrescentou.
Por outro lado, a exposição de exchanges descentralizadas a memecoin — principalmente nativas de Solana — e anteriormente a NFTs — principalmente nativas de Ethereum — coloca em questão suposições usuais sobre finanças descentralizadas (DeFi). DeFi é frequentemente vista como o submundo das criptomoedas, já que não há exchanges centralizadas para lidar com segurança e interoperabilidade.
Com memecoins e tokens não fungíveis, a descentralização deu à indústria cripto suas narrativas mais populares e ampliou o apelo para os que não conhecem bem o ramo. De acordo com o relatório do segundo trimestre da CoinGecko, a participação de 22% na narrativa cripto das blockchains Solana e Base, ambas expostas a memecoins, é proporcional à crescente atividade DEX.
O volume de negociação descentralizada de câmbio no Ethereum, a segunda maior criptomoeda depois do Bitcoin, aumentou 12,5% em relação ao trimestre anterior para US$ 162,5 bilhões, respondendo por 40% do volume total de transações DEX à vista. A Solana encerrou o trimestre de junho com um volume de negociação de US$ 20 bilhões e 18% da participação de mercado. A Base surgiu como o maior ecossistema de camada 2.
DEXs como Orca, Raydium e Aerodrome devem seu aumento no segundo trimestre a tokens de novidade e novos projetos que emitiram airdrops. Airdrop é um tipo de oferta gratuita de criptomoeda que é “jogada” nos endereços de carteira das pessoas. Enquanto isso, a Uniswap continuou sendo a principal exchange descentralizada, detendo uma participação de mercado de 48%.
CEXs ainda são ‘necessárias e insubstituíveis’
Em contraste com o burburinho das meme coins, as moedas digitais apoiadas por capital de risco, que eram um pilar das corretoras centralizadas, parecem ter diminuído nos últimos meses. Os investimentos trimestrais de VCs em projetos de criptomoedas caíram de US$ 12 bilhões durante o primeiro trimestre de 2022 para entre US$ 2 e US$ 3 bilhões nos últimos dois trimestres.
Ryan Lee, da Bitget Research, citou a tendência de queda como uma das razões pelas quais as CEXs estão sendo negociadas negativamente enquanto as exchanges descentralizadas estão em ascensão.
“O desempenho ruim das moedas VC e sua reputação cada vez mais negativa nas mídias sociais reduziram significativamente o volume de negociação desses tokens em exchanges centralizadas”, disse Lee. “É difícil prever se essa tendência continuará no Q3, pois está intimamente relacionada à tendência geral do mercado e se haverá uma ‘temporada de memes’.”
Além de novas propostas, o analista sustenta que as CEXs permanecem “absolutamente necessárias e insubstituíveis”. Ele apontou coisas como facilidade de uso e suporte para diferentes soluções fiduciárias para pessoas em vários países como um ponto de venda importante para exchanges centralizadas.
Barreira para novos usuários
Na maioria dos casos, as DEXs não oferecem suporte direto para negociação fiduciária. Isso é uma barreira para novos usuários e uma necessidade crítica que não pode ser ignorada, disse Lee.
“As exchanges centralizadas fornecem mais serviços financeiros”, ele afirmou. “Elas oferecem vários serviços de gestão de ativos e negociação de estratégia, com vários produtos financeiros disponíveis para manter BTC, ETH ou outras altcoins. A negociação de cópias e a negociação de estratégia em CEXs também são mais maduras e seguras.”
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